quinta-feira, 10 de julho de 2008

Politicas afirmativas e o mito racial



A ausência de conflitos raciais abertos dá a impressão de que o Brasil é um país cuja cultura possibilita um futuro sem “raças”. O mito de democracia racial alude um ideal de homogeneidade racial, o que se trata de uma negação de alguém, de algum tipo racial.
A reafirmação disso é o ideal de branqueamento, que visava atrair mais imigrantes europeus para mão-de-obra e, possível diminuição da população negra através da miscigenação. Logo, a população negra seria assimilada pela branca. Quando assimilado pela população, esse ideal provoca a desvalorização do negro na sociedade. E a “mistura” passa a ser mais bem vista que estética negra, aí se nota a tal negação do mestiço em relação à “raça” de origem.
As conseqüências que estas concepções trouxeram ao Brasil foram; que o Brasil é um país onde não existem raças, ou mesmo pode se tornar um; ao invés de “raças”, existem classificações (hierárquicas) baseadas na cor.
Segundo estudos realizados pela Unesco, raça existe, mas não como uma categoria biológica, mas como uma categoria social. De fato, o negro deve assumir sua negritude e não negá-la, caso contrário ele próprio estaria sendo preconceituoso.
Devido a esse ideal de inexistência de “raças” no Brasil, não existiam nenhum tipo de política de correção das desigualdades raciais. Dessa forma, aqueles q na realidade sofriam sim injustiças sociais, estavam desamparados da lei e só contavam com a iniciava própria do grupo. Assim sendo, o sistema de relações sociais neste país era algo extremamente cruel com as pessoas de cor que passavam por situações constrangedoras.
Portanto, as ações afirmativas surgiram com a finalidade de corrigir esse erro do passado, buscam promover a justiça entre os diversos grupos sociais, através de um tratamento diferenciado. Nesse sentido se incluem as cotas e políticas sensíveis a critérios raciais.
O sociólogo Joaze Bernardino defende que “as ações afirmativas são concebidas como instrumentos eficazes de correlação de problemas relativos à redistribuição de bens econômicos e cargos de poder a curto e médio prazo.” Mas o problema não se restringe apenas ao fator econômico, e sim a um fator social de reconhecimento do negro como cidadão comum, que possui tantos direitos como os outros, e como um indivíduo que, ainda no séc XXI sofre preconceitos de um povo que é absolutamente miscigenado, possui sangue negro nas veias e nega sua origem através do preconceito racial.
Infelizmente no Brasil há uma distorção, uma negação dessa identidade negra. Muitos sentem dificuldades em assumir ser negro (refiro-me à cor da pele) e, alguns chegam a querer parecer-se esteticamente com brancos. Inclusive na televisão podemos constatar isto, onde o negro aparece como o empregado ou, como alguém que nega sua identidade mudando sua estética; alisando e aloirando os cabelos, agindo com preconceito e etc. Isto por que ainda paira a concepção de padrão de beleza europeu que foi introduzido em nossas mentes desde épocas do colonialismo e, reafirmado todos os dias pelos meios de comunicação, de moda e o comercio.
O mito de democracia e o ideal de embranquecimento são fatores que dificultam a implantação das Políticas Afirmativas, pois estão enraizados na concepção das pessoas, que negam o racismo como um problema brasileiro. Estas concepções só podem ser arrancadas do ideário dos brasileiros através da educação. Somente ela poderá mudar essa realidade, preparando as crianças para a vida em uma sociedade não excludente, onde as diversidades raciais e culturais sejam amplamente aceitas e respeitadas e o preconceito racial superado. Esta seria a formação da tal sociedade justa, com o Estado e a sociedade valorizando os negros, mulatos e brancos sem negligenciar uma em exaltação de outra.


(estudo realizado a partir do texto "Levando a raça a sério: ação afirmativa e universidade." de
Joaze Bernardinho)

Damasceno, Y.L (conexista)

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